segunda-feira, 19 de maio de 2014

Mosaicos, de Michelle C. Buss



Mosaicos, livro de poemas de Michelle C. Buss, idealizadora desse blog, muito dedicada estudante de Letras, poeta exemplar... oras, mas como assim poeta exemplar? Um poeta -- quando é poeta de verdade verdadeira, mesmo mesmo -- nunca escreve por hobby (no caso dos poetas escreventes, porque existem sim os poetas que pintam, os poetas que esculpem, que cantam, tocam etc. etc. Basta que não baste respirar pra ser poeta, o importante mesmo é tocar a vida, ouvir a música, essa é a arte), escreve sempre por paixão, necessidade de abandono. Escrever é uma tábua de salvação, usando uma metáfora bem popular.; um ofício que exige máximo respeito e dedicação. Eu digo sempre que isso de ser poeta é um sacerdócio. E quando alguém chega e me fala: "Acho que vou começar a escrever poesia", eu trato logo de convencer do contrário se noto que esse alguém não PRECISA realmente "carregar água na peneira", como no poema de Manoel de Barros (arrogância minha? pode até ser, mas foi a forma que encontrei de expulsar os mercadores do templo). Volta e meia a gente encontra dessas almas que nasceram sob a estrela da poesia, estão envoltas numa aura de mistério e vão causando rupturas por onde passam; pássaros ou outras coisas etéreas que tomaram forma de gente. Acho que a Michelle está entre essas almas: Acho. Só pra não falar de certezas absolutas. E Mosaicos é o primeiro livro dela, é uma beleza.
Mosaicos é estelar. A paixão pelas palavras, a relação consciente-inconsciente, imagens tremendamente cósmicas (alguns poemas simulam verdadeiros caleidoscópios), a natureza sem filtros e também simplicidade e concisão, qualidades de quem conhece o terreno e não veio ao mundo pra brincar de poeta ou enfileirar palavras. Muitas influências -- pois a autora é também uma grande leitora -- que só acrescentam à originalidade latente do livro. É um mosaico e tanto.
Tive a honra de ser o primeiro (ou um dos primeiros) a ler alguns dos poemas de Mosaicos e acompanhei parte da trajetória da Michelle até chegar ao atual nível de beleza e sinceridade na arte das palavras. Posso dizer com toda certeza que este livro é produto de muito esforço de aperfeiçoamento, raro talento e vivência na poesia. Vivência na poesia, sim; essa é a parte mais difícil e ela conseguiu.

A imagem da capa já está disponível (aquela lá no início do post, lindíssima!) e o livro já se encontra no catálogo da Editora Patuá em pré-venda (entrega após o lançamento que ocorre em junho).

E este é um dos poemas que a Editora Patuá divulgou no site. Dos três, o meu preferido, só de ler eu já sinto cheiro de natureza:

Há coisas que não
cabem em um poema:
a suave ondulação
que se desenha
na superfície da água
quando a cigarra
gentil
se molha.

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